TEMPOS DE RAPAZ.. Série: Figuras de Jequié....
TEMPOS DE RAPAZ... SÉRIE FIGURAS DE JEQUIÉ - BAHIA
Quando estudei no ginásio de jequiê, aos 12 anos,interno que era, fui convidado pelo padre Spínola para ajudar o colega Humberto, apelidodo de Bispo por ser irmão do bispo de Amargosa, que era o sacnstão oficial.
O meu trabalho consistia em balançar o turíbulo (com brasas e incensos) de um lado para outro e passá-lo ao Padre nos momentos mais importantes da missa.
No meio do ano de 1951, o Humberto foi embora para Salvador e eu o substitui. Lembro~me que cheguei a ajudar a 3 missas consecutivas, em jejum, das 6 as 8 hs. da manhã. Aprendi a comer hóstia e beber vinho do Porto. Também, dei alguns prejuízos ao Padre Spinola quando vencido pela fome. deixava o pesado turíbulo bater no chão, espalhando brasas pelo riquíssimo tapete persa. As beatas corriam a pegar as brasas e recolocá-las no turíbulo enquanto o padre espumava de raiva pela minha negligência. - Seu pipia, ajude as senhoras a pegar os brasas... dizia; claro que eu fazia ouvidos de mercador. Depois das missas, um lauto café aguardava-me na casa do padre, servido por D. Raquel e suas sobrinhas com cara de freiras. Ali comíamos pães quentes com manteiga, café com leite e até biscoitos.
Quando eu contava aos colegas do internato as iguarias do café da manhã eles ficavam desolados...
O café do refeitório tinha o apelido de petróleo pois metade da xícara era pura borra. Pão com manteiga ardida completava o drama. No almoço, o feijão tinha mais gorgulhos que caroços, uma coisa aguada, carne com muito nervo e gordura, e arroz a la grude. O jantar era igual ao café da manhã. No intervalo das aulas costumava comer um pão doce que era vendido pela mãe de IB com um delicioso refresco de maracujá. Comprava fiado e pagava nas segundas feiras, com a mesada que meu pai instituiu por semana.
Nos domingos à tarde, quando não fazia parte da lista negra do Senhor Nelson Canguçu, o bedel ou do Zito, que era o secretário, ia almoçar na casa dos meus padrinhos Angelina e Camilo Sarno, a saborosa macorronada do domingo. Após o almoço, com Miguel Sarno e outros amigos íamos ao Cine Jequiê onde assistíamos filmes cow-boys e os seriados Flash Gordon no Planeta Marte, Flecha Negra, Durango Kid, além dos John Mac Brown, Buc Jones e tantos outros heróis do far-west americano. O Fantasma era outro grande atrativo. Depois voltávamos para o colégio, cuja disciplina era rígida e tínhamos que nos apresentar para a ceia das 19 horas, após o que fazíamos banca e às 21 horas íamos dormir para acordar na segunda-feira, às 6 da manhã.
Naquele tempo não se fazia sexo no cinema e nem filmes de sexo explicito eram exibidos. Nos filmes para maiores de 18 anos os funcionários impediam a entrada de menores. Hoje virou bagunça. Crianças de 10 anos vêem verdadeiros bacanais no cinema e na televisão, sem falar nos vídeo-cassetes.
Não sou moralista, mas acho que tudo tem o seu tempo. Como está não acho certo. Nada de reprimir. Quando me posiciono, é no sentido de educar, instruir, liberar com responsabilidade. No nosso tempo, o namoro era maravilhoso, O prazer da conquista, a descoberta do amor, o primeiro beijo, tudo tinha um sentido romântico (para não dizer humano).O tempo foi passando e as coisas foram mudando, com raras exceções, dos bares da vida o jovem vai para os motéis, antes passando por pontos de drogas, atrás de ingredientes como maconha, cocaína, heroína e até cola de sapateiro, cheirinho da loló, crack, knobe e etc.
Este é o mundo legado aos nossos filhos. O mundo cão que nossa omissão fez surgir e cuja consequência é irreversível. Quando acontece algum infortúnio para um jovem numa família normal, são constantes os consolos dos pais ao se referirem aos filhos: pelo menos ele (ela) não era viciado (a) em drogas ou homossexual.
O fantasma da AIDS tem feito muita gente parar para pensar, antes de fazer experiências sexuais ou com drogas. Pois a AIDS mata, e todos temos medo da morte.