SÉTIMO ATO: A DESCONTRAÇÃO


Do lado de fora do berçário
ele andava nervoso arrastando a perna que
estranhamente adormecera e não recebia seus comandos.
Comia um chocolate após o outro
não tinha unhas para roer.
Olhava alguns pais fumando,
não queria poluir ao ambiente.
O corredor era infinitamente grande.
Uma voz de mulher pronuncia lentamente um nome.
Era o dele.
Não sabia se deveria dizer alguma coisa, e,
por um segundo ficou sem reação,
tinha medo do que lhe seria dito.
Sorriu aliviado quando apontaram para um bebê gorducho e cabeludo.
Seria realidade ou não, se perguntou sem se dar resposta.
O vidro era realidade e separava pai e filho.
Um bebê de cabelos emplastados se mexia sem parar.
Empacotavam-o em forma de cone 
não podia mais vibrar as mãos e as pernas. 
Choram duas crianças, uma de cada lado do vidro.
Alívio.
Inquietação
Abstraindo-se de tudo ele procurou  por ela.
Ela já não lhe era repugnante,
agora parecia  imaculada e sagrada mulher.
Abraçam-se como se não se vissem há anos.
Choram e sorriram abraçados, trocam juras eternas.
Ela recebeu as rosas que ele lhe entregou
e sorriu triunfante.
Ele leu um poema, ela concordou com todas palavras.
Os dois se beijaram e sentiram que nada mais existe 
importava no mundo senão três, agora, na vida a dois.

Este é o Sétimo e último Ato do Conto minimanista:
"A vida a dois em atos", escrito em 1980.
O conto se completa com os demais textos indicados abaixo. Leiam:  
Primeiro Ato: O AMOR
Segundo Ato: O MEDO
Terceiro Ato: A DOR
Quarto Ato: A NÁUSEA
Quinto Ato: O DESPERTAR
Sexto Ato: A CONTRAÇÃO



Divina Reis Jatobá
Enviado por Divina Reis Jatobá em 02/06/2007
Reeditado em 07/07/2008
Código do texto: T510466
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