Exclusões
As lágrimas desciam pelo seu rosto. O peito ainda arfava. A coloração avermelhada dos seus olhos difundia-se como se fosse um baseado bem louco. Estava no Éden desfrutando daquele Adão - ela comeu aquele homem de forma gostosa. E dentro daquela virilidade, ele pingara alguns versos dentro do seu úmido sexo. Poetou até de madrugada.
Mas o tempo voava e a vida tão ávida jamais esperou para um novo encontro. E quase desembestou felina e selvagem rosnando com a gosma entre os lábios feito cachorra louca. Foi duro tentar romper com o vício. Foi extremamente doloroso sentir que já não havia mais o amassado dos lençóis e nem o cheiro dos sexos.
O quarto totalmente solitário ressentia-se pela falta dos gemidos. As janelas que antes viviam embaçadas, agora eram límpidas e nuas. E o reflexo da rua era sentido dentro do ambiente tão plúmbeo. O barulho dos carros, a embriaguez dos boêmios e a palidez do sussurro cheio de mágoa.
- Volta... - dizia ela num tom inaudível . Dizia sem parar na febre daquela madrugada.
- Eu sempre volto - ele articulava as palavras de uma forma que a impregnava.
- Fica, vai... - ela era acometida de sentimentos tão puros.
- Fico, eu sempre fico... e ele a penetrava mais fundo.
Agora as lágrimas haviam secado como as escamas dos peixes que secam ao sol. Não tinha tanto motivo para o desânimo ou a febre na rachadura dos lábios. Mas o suor agora escorria bem gelado. Fora as batidas violentas do seu coração. Só a exclusão daquele passado.