Ato Santo
As mãos trêmulas de excitação empurram lentamente a porta do antro que recebe a luz acobreada da noite, o homem de batina se esgueira nas sombras tendo a espada em riste. O odor da luxúria está em todo lugar e ele sente o sangue em ebulição frente ao ato prestes a ser consumado. Ela está de costas com suas roupas escuras esvoaçantes erguendo as mãos espalmadas para cima pronunciando sussurros ininteligíveis mesclado a um riso lascivo. O chapéu pontiagudo esconde melenas cor de nanquim e seu corpo esguio move-se de lá para cá como se valsasse ao sabor de uma melodia inaudível.
- In nomine Patris, et Fílii, et Spiritus Sancti.
A bruxa vira-se para o homem fitando-o, uma surpresa teatral se estampa em sua face jovem enfeitiçada pela beleza. Ele estremece sentindo as gotas de suor brotarem em sua testa também jovem, a espada permanece vibrando em prontidão. As mãos com unhas escarlates erguem-se para ele que percebe os lábios chispando em prévia de conjura, o crucifixo é mostrado de modo imponente para a bruxa que revira os olhos pedindo clemência ante o poder daquele símbolo. O homem de batina rasga as vestes dela procurando a marca negra que logo é visualizada acima do seio esquerdo.
Já não há mais forças para continuar ali parado e a espada é embebida em júbilo quebrando o silêncio da madrugada, que testemunha as silhuetas em dueto no Santo ato de comunhão e partilha entre homem e mulher recém casados.
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- Chapeuzinho vermelho e lobo mau?
- Ah! Bota aquela fantasia de palhacinho, bota?
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Obs 1 - Texto participante do Desafio que ocorre no Blog EntreContos cujo tema, este mês, foi: Bruxas.
Obs 2 - Explicitamente um casal abusando dos fetiches (fantasia padre e bruxa).