Paris & Pasárgada
Era uma tarde quente de verão.
Os dois sentados no pontilhão com os pés balançando no ar.
Lá embaixo, ouvia-se a gritaria dos que esbaldavam naquele rio caudaloso.
Ele, moleque do lugar, conhecia todas as curvas e profundezas do rio;
ela, crescida no asfalto, não sabia nem como colocar os pés na água.
Olhavam um pro outro sob aquele céu azul e tudo parecia bastar.
Puxando assunto, o menino perguntou o que ela tanto escrevia, pois carregava um bonito caderno com florzinhas na capa. Entusiasmada, foi contando que anotava sobre tudo que via desse mundão de Deus e mal percebeu que o olhar do ouvinte escurecia.
Na última página escrita, havia um belo poema onde o autor terminava com -"... entre Paris e Pasárgada."
E um comentário - "pois Pasárgada tem o tamanho e a beleza do (seu) coração"
O menino de chofre - " você prefere Paris"!
Nem ao menos perguntou.
Ela ficou quieta e guardou a sinceridade para quem ouviria.
Conheceu Paris.
Pensando bem, foi um belo consolo.
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O belo poema - "entre paris e pasárgada" - Francisco Zebral
ninguém pode
interditar o sonho
ou proibir a viagem
entre duas egrégoras
ou duas almas
de tanto ouvir o silêncio
é possível tateá-lo
e tecer no coração
o mapa e a passagem
entre paris e pasárgada
.