A semana que não acabou
Naquela típica manhã ele desceu as escadas fumando, tentei levantar e ir de encontro com ele porem minhas pernas estavam fracas demais, tremiam quando eu tentava levantar. Já fazia alguns dias que estavam assim, mas escondi dele, ia melhorar, tinha certeza que sim.
Porem naquela manhã não consegui esconder, meu irmão já estava em pé, ganhou um beijo dele, fez uma careta por não gostar de cigarros. Ouvi me chamar pelo nome, não consegui levantar, me chamou de novo “desculpe, hoje serei incapaz de lhe servir”.
Jogou o cigarro fora e me pegou no colo, perguntou o que eu tinha, o que estava sentindo, tentou me colocar no chão para eu caminhar, apenas deitei. Me pegou no colo novamente, perguntou o que eu tinha, “estou fraca, não consigo andar, desculpe por isso”, mas dessa vez ele pareceu não entender.
Estava claramente preocupado, pegou o telefone e apertou alguns números, “Oi, Claudia? Você ta livre ai? Tem alguma coisa de errado com a Pedrita... ok, tá, to levando ela ai agora”. Acho que era a médica, não gosto dela.
Na outra manhã fui acordado por ele, com uma coisa na mão e tentando fazer eu engolir aquilo que estava saindo dali, fazia alguns dias que não comia, não conseguia engolir nada. Ele forçou até eu engolir, tinha gosto de sangue e carne... 5 minutos depois vomitei.
Me partiu o coração vendo ele chorar me implorando pra comer, “Vamos Pedrita, você precisa comer, você precisa melhorar, vamos... não vomita não, engole e deixa ai dentro...” – “Desculpe, não consigo”.
Foram 3 dias dessa forma, 3 vezes por dia, e no seu colo basicamente 24 horas de todos esses dias. Me partia o coração vendo ele chorar, lhe beijava para ele saber que estava tudo bem, mas ele chorava mais. Eu pedia desculpas, ele continuava a soltar suas lagrimas, conseguia sentir a dor em seu coração.
Quarto dia fui internada, rasparam os pelos da minha perna e a espetaram com um tubo de plástico longo, tentei tirar com a boca mas não consegui, escutei a conversa com a médica, “ela ta extremamente fraca, vamos tentar com o soro...”(O que que é soro?)”... Se ela não reagir não temos muito o que fazer”. Ele derrubava lagrimas, veio falar comigo, “Vai ficar tudo bem meu amor, você vai ficar aqui uns dias, você vai sarar logo logo e depois vamos pra casa, tchau...” me beijou e me molhou com suas lagrimas, seu coração estava derrotado, não acreditava nas palavras que acabou de proferir.
Pedrita, não queria acabar esse texto. Não queria sequer escreve-lo. Você teve meu amor, e eu sei que tive o seu, era único e tenha certeza que irei cuidar do bambam exatamente como você cuidava. Com unhas e dentes.
Ass.: Seu amigo desde que você nasceu em uma caixa de papelão.