A menina no espelho
Foi um dia ruim. Bom, todos têm dias ruins, qual a novidade?
A maquiagem borrada formavam lágrimas negras grotescas. Continuo tão bonita agora?
Um sorriso irônico se formou e logo desapareceu. Olhei meu reflexo no espelho. E lá estava ela, aquela menina.
Eu achei que havia me livrado dela há muito tempo, mas olhe ela aí. Ainda a sinto queimando dentro de mim.
Eu me lembro de como era ser “eu”/ela. Odiar-se, odiar o mundo, apenas ódio. Machucar-se. Estar desesperada.
Aquela garotinha chorando no escuro, lágrimas de sangue. E ela se perguntava “O que há de errado comigo?”, “Por que sou assim?”.
Cada nome surge na memória junto às ofensas e risadas. Rostos de fantasmas que não me deixavam dormir.
O que eu fiz de tão errado?
As musicas falavam de um anjo que viria me salvar. Ele nunca veio.
Eu me cansei de esperar e decidi caminhar com minhas próprias pernas.
Eu mudei. Eu cresci. Aquela menina esquisita não existe mais.
Eu mudei, eu cresci. Ela morreu. Eu mudei, não?
Ainda estou escondendo as cicatrizes nos pulsos. Por que essa garotinha me persegue? Ninguém terá pena de você, pare de chorar!
Mas as lágrimas caem mais pesadas. Lá esta ela, abaixando a cabeça e chorando por que ninguém podia aceita-la.
No fim, aprendi a voar, mas ainda tenho medo de cair. Continua doendo, a ferida de anos atrás. Ainda sou tão fraca.
Chorei junta a pequena “eu” no espelho. Não posso esquecê-la, ela faz parte de mim.
Lavei o rosto e limpei minhas lágrimas. Mais lágrimas virão, a dor permanecerá.
Mas eu estou acordada, estou viva.
Tenho medo, minhas asas quebradas ainda doem. Mesmo assim, vou voar.