Perdido na madrugada
Morava em uma cidade perigosa e nunca tinha sido assaltado. Orgulhava-se disso. Meio da noite confidente, ficou dando mole, perdeu playboy, perdeu! Não tinha dinheiro, abaixou de quatro e cedeu o que tinha de precioso, sem preservativo.
Era já um bom tempo esse que não abandonava a cama, ninguém compreendia onde estava sua vitalidade, seus famosos e risonhos Bom Dia! A moça do café sentia falta da gorjeta, o tio da banca vendia um jornal a menos, os amigos do trabalho acharam que era férias.
A dor física passara, a emocional voltava a cada hora que precisava usar o vaso sanitário. Cogitava voltar para o interior, os velhos horizontes. Empacotou os trecos, não falou tchau a ninguém, pegou a reta do ônibus, deu de cara com o mesmo “assaltante”, no meio do dia.
Tremeu todo, ameaçou choro. O cara era grande e tinha gostado do serviço oferecido, quis repetir a dose. Arrastou pra dentro duma pensão, pediu um quarto confortável, pagou pelo dia e pela noite, pelas frutas e pelo vinho. Não acreditava em tanta sorte, digo, má sorte.
Voltou acompanhado pro velho apartamento, jogou um lero na síndica, aos trecos adicionou os do bandido – de seu coração. Comprou champagne pra comemorar, morango e chantilly. Ligou pra mãe no interior, não ia voltar mais não, tinha ganhado uma promoção no emprego. É sim, todo mundo triste por ele partir.
Amor.