Gabriel

Um instante,

O bastante

Para ser eterno.

Era uma vez, meados do século passado, em uma escola católica só para meninas...

Época de modernizações e o colégio tentava se adaptar.

Foi criada uma classe especial - mista (modelo implantado somente cinco anos depois).

Não me pergunte onde encontraram esses meninos-cobaias, não sei.

Eram uns quinze meninos e umas vinte meninas, sentados em lados separados e até os pátios para o recreio eram separados pela capela!

Havia a Paula, a menina mais esperta e as amiguinhas mais chegadas, o menino mais bonito que amava os olhos azuis tristes da Soninha, minha melhor amiguinha, e uma bagunça generalizada na classe após o sinal do término do recreio, só contida com a voz severa da irmã Mônica, a professora de matemática.

E foi assim, após um término de recreio, eu sentada na primeira fila perto da janela com o meu bloco de desenhar, vi o Jodimar, poderia dizer - o "capitão" dos moleques, puxando pelo braço um menino de franjinha com os dentes frontais ainda nascendo e um cartão do tamanho do caderno na mão. Me entregou e saiu correndo e eu quase saí correndo pela janela também. Rapidamente o escondi entre as páginas, não agradeci e nem olhei para trás. Não era indiferença, era uma timidez atroz.

Coitado, nunca falei com ele, e ele nunca conversou comigo.

Só em casa, com o coração saltando e um sentimento de quentura, olhei para aquele cartão com uma rosa vermelha enorme salpicada de purpurina.

Hoje, velhinha, sorrio toda prosa e digo :

"Nossa, ganhei um cartão de dia dos namorados aos sete anos!"

(Naquele dia, naquela hora, dentro daquele colégio, fui única.)

Para o Gabriel, onde quer que esteja, tem a minha completa admiração pela coragem de dar o passo rumo ao desconhecido.

Com décadas de atraso, agradeço de coração.

O cartão era lindo!

.(mini-crônicas de um tempo)

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lilla wood
Enviado por lilla wood em 12/06/2014
Reeditado em 13/06/2014
Código do texto: T4842179
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