Páginas vazias.

Era uma rua soturna aquela onde se cruzaram dois cabisbaixos e pensativos idosos. Entreolharam-se, e com um cansado sorriso de compaixão, seguiram em frente. Quem sabe, talvez estavam a relembrar um glorioso passado, ou então, a se angustiar por terem sido iguais a Fernando Pessoa, que tinha em si os maiores sonhos do mundo, mas não era nada. Se ousassem reagir, dar um fim ao sofrimento, esquecer esse arrependimento, se tivessem tirado logo o incômodo sapato, estariam sempre a dançar nessa festa que uns loucos chamam de vida. Mas eram tantos "se" que quando abriam os olhos já era tarde. Não havia mais festa.

Viviam em sombras. Sombras essas que se projetavam logo atrás, em brancas folhas de papel que refletiam nobres e livres espíritos. Mas eram páginas vazias. Bastava só apagar as luzes e pronto. Nada mais que um sonho.

B Duarte
Enviado por B Duarte em 11/04/2014
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