Uma cirurgia perfeita
O médico tardava a realizar as suas cirurgias, uma vez que era muito detalhista e perfeccionista. As incisões tinham que ser milimetricamente calculadas e as tantas medições e estudos matemáticos causavam vertigem aos instrumentadores.
O cirurgião estava muito próximo da perfeição e a sua habilidade em suturas já era reconhecida mundialmente. Antes de uma cirurgia, o renomado mestre enclausurava-se na madrugada escrevendo detalhadamente os numerosos procedimentos.
A ágil equipe de enfermagem organizava tudo e o cirurgião falava sozinho, refazia medidas, analisava imperfeições, puxava as sobras, emprestava tecidos, dividia as mamas, retirava tecidos, levantava nádegas, preenchia cavidades, retirava gorduras, enquanto ordenava ao anestesista: “anestesia, mais anestesia”.
Após 12 horas de batalha, ainda muito desgastado pela cirurgia, o médico fotografava tudo, virando e revirando o corpo desfalecido da criatura a fim de alcançar todos os ângulos possíveis.
Enfim, executou um trabalho impecável como nunca visto na medicina. Os comentários se alastraram velozmente. O homem agora se igualava a Deus. No entanto, a sombra do azar o acompanhou. Duas horas após, a cliente teve uma parada cardíaca devido às altas doses de anestesia.
“Há sempre o risco de morte numa cirurgia”, estava explicando o “doutor” aos familiares durante o funeral, mas profundamente orgulhoso garantiu que o seu trabalho tinha sido um sucesso na execução.