A chance da segunda-feira
A luz azul tão esperada surgiu numa manhã de segunda-feira.
Era cedo ainda quando sentiu, pela primeira vez, que podia viver sem ela.
O choque ainda era grande, mas o fato era que a felicidade insistia em bater à porta.
Talvez ainda demorasse meses, ou anos, mas um dia ainda teria a chance de acordar, abrir os olhos e respirar tranqüila, sem aquela taquicardia louca e ensurdecedora.
Foi numa segunda-feira que as sombras começaram a recuar, mais e mais até o dia de hoje.
E hoje, já passados cinco anos, tem em sua alma uma leveza não-identificada, paz que só se encontra em infância bem brincada, bem amada.
Sabe olhar o sol, olhar o dia, e sorrir? Sabe ouvir um barulho de carro, um cheio de terra, e sorrir?
Sabe olhar pro lado, ouvir as panelas na cozinha, mexer nuns papéis, e ter vontade de comer aquele arroz quentinho no almoço?
Sabe esperar um telefonema de um amigo, e depois passar horar no telefone, rindo e falando do mais recente aforismo?
Sabe o livro inacabado, a história bem contada, os momentos de ilusão?
Sabe o amor devotado ao professor, o medo da correção da prova, a preguiça do dever de casa?
A vontade de deitar a tarde toda sem fazer nada...
Coisas pequenas que não fizeram parte de sua vida, pois roubadas pela mãe malvada.
Mãe morta e enterrada naquela manhã de segunda-feira.