CONTO DE FADAS ÀS AVESSAS

Renata recolhia os pratos com restos de comida, e os copos a pouco utilizados no jantar. Olhou a mesa viu a toalha suja de migalhas caídas do prato de seu esposo. Recolheu os copos e pôs na pia, de onde sua visão podia ver seu homem corpulento jogado sobre o sofá olhando as curvas das atrizes da novela das oito. Passando o esfregão todo ensaboado com detergente sua memória a levou aos meses que antecederam seu casamento.

Ela sempre fora uma jovem romântica à espera de seu príncipe encantado – coisa que ela achava muito normal, e que pensava acontecer com todas – um dia aparecer a sua frente. Quem sabe mesmo um sapo, pois diziam que estes em belos príncipes se transformavam. Por isso muito mais que aparência, ao invés de procurar, esperava ele aparecer. Saberia quem era quando seu coração fosse tocado ao seu sentimento mais profundo. Foi o que aconteceu ao ver Carlos Eduardo. Belo, autêntico, um homem diferente aos outros. Renata viu nele seu príncipe.

Dois meses de namoro foram suficientes para o casamento, a lua-de-mel tão ardente e especial, que em nenhum momento Renata tinha dúvidas. Sentia-se como uma princesa, e Carlos seu príncipe. Viveram neste clima por um bom período regado a vinho, flores e muitos beijos.

A louça posta a escorrer, ela sentou-se no sofá. Ele já emitia os primeiros sinais de sono. Seu principiar de ronco era a prova. Carlos Eduardo não era mais o mesmo. Esquecera-se das flores, do beijo e do vinho. Há muito sequer os dois se amavam. A beleza do rosto de seu homem dava lugar a rugas de uma vida rotineira. Seu porte físico, nobre, inerente aos príncipes, dava lugar a uma enorme barriga, a flatulências e poucas palavras de carinho. Renata colocava sob suspeita os contos de fada. Afinal, vivia no mundo real, onde os príncipes é que se tornavam sapos.

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 27/04/2007
Código do texto: T465861
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