Toque divino
Queria rezar. Queria conseguir recolher-se consigo mesma, numa atitude concentrada e profunda. Impossível: os fatos do dia-a-dia a atropelavam. Vinham em conjunto, desordenadamente, chocar-se com suas melhores intenções. A mente, em crescente agitação, pegava fogo. E lá se ia o propósito, lá se ia o sono. Socorro, uma pílula para dormir!
Queria rezar. Mais uma vez tentaria. Queria comunicar-se com o que havia de mais intrínseco em si. Há tanto tempo não o fazia. Há tanto tempo não conseguia. Sempre aturdida por vozes que lhe lembravam mil coisas do mundo. Preocupações, problemas, conflitos... Deus, me ouve, gritou para dentro. Deus! E seu grito ficou ecoando por suas entranhas, penetrando em cada canto do seu ser. Deus!, insistiu, no desespero. E, depois de tanto tempo, ouviu um silêncio que falava de paz, de plenitude. Aconchegou-se, inundada por aquele doce silêncio que fazia emudecer qualquer voz. Antes de adormecer, sentiu que fora tocada.