O Criador e A Criatura.
A vontade de escrever veio em espasmos. Primeiro foi o impulso de buscar os instrumentos necessários: lápis e papel. Pensou em um gravador (às vezes lançava mão deste artifício) no caso das palavras fluirem mais rápido do que sua capacidade de registrar, pois sua mão sempre ficava trêmula sobre o papel, às vezes até suava e o lápis corria.
Acomodou-se e como em transe, escreveu. Passou algum tempo ali em silêncio. Só a expressão do seu rosto se alterava à proporção que evoluía no ato da criação.
Quando terminou (assim pensou), foi ler e começaram os consertos: pontos, vírgulas, parágrafos, palavras sendo mudadas de lugar, outras sendo substituídas ou corrigidas.
Então concordou num diálogo consigo que poderia encerrar por ali, isso se as palavras não insistissem em brotar, sinalizando que ainda não era hora de terminar: tinham mais a falar.
Ele então resolveu que iria brigar com elas e dar um ponto final. Só que ao reler, viu que faltava aquela palavra que encerraria o seu pensamento e ele não a encontrava. As palavras tramaram contra ele que resistiu enquanto pode, quando se rendendo ao cansaço, largou reticências ao final da última frase. Teria que retornar ao texto mas...
Levantou-se e saiu angustiado, sem palavras para expressar aquele momento.