Bodas de ouro
Um anel de ouro branco. Uma pequena esmeralda dando o toque de classe. Embalagem simples. Luxo algum.
Na realidade eu queria outra jóia. Aquele brilhante exposto na joalheria, por exemplo, ladeado por outras três pedras menores, seria o ideal.
Manhãzinha, quando saí – ela ainda dormindo – decidido a comprar um presente, não tinha a mínima idéia do quanto custaria. Tinha a leve impressão que as economias dos últimos seis meses não dariam. Estava completamente certo, infelizmente.
Voltando para casa, depois de um estafante dia de trabalho, o chefe de setor me atazanando o tempo todo, o minúsculo pacotinho no bolso do paletó me envergonha. “Droga!” penso. “Porque não economizei mais alguns meses!” lamentando ter tão pouco para ela.
O jantar especial dificulta ainda mais a entrega. Reluto. Penso. Repenso. E entrego os pontos. . . e o presente minúsculo.
Dedos delicados abrem a pequena caixa. Meu coração se fecha.
- É lindo! – murmura, os olhos brilhando.
Abaixo os meus , não acreditando. “ Está decepcionada comigo. Diz isso só para não me magoar.”
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Hoje a vi sentada no sofá da sala, rodeada de presentes lindos e caros enviados por nossos filhos e netos, acariciando lentamente o anel de ouro branco dado por mim no nosso primeiro aniversário de casamento, os olhos brilhando entre as rugas do rosto ainda belo, num misto de felicidade . . . e saudade.
Sem que ela percebesse, saí para o quintal fumar um cigarro e disfarçar meus olhos molhados.