UM PRESENTE ESPECIAL
Havia tempo que a negociação acontecia:
— Tá caro!
— Mas é preço, senhor.
— Vê se me faz um desconto maior.
— Já lhe fiz o menor preço possível.
— Então me ache um modelito mais simples.
— Esse aqui é o mais rústico que tenho.
— Não tem nenhum com defeito de fábrica?
— Eu tenho um com a alça quebrada, mas pelo que o senhor falou, ele não caiará sob medida. Para quem é?
—É para minha sogra. É um presente especial que darei a ela. O primeiro e último.
-—...
__Devo reconhecer que apesar da difícil negociação essa compra está me dando um e enorme prazer.
__ Tenho uma mercadoria no estoque de preço bem razoável, pela medida que o senhor me passou vai servir perfeitamente para sua sogra.
— Não posso gastar muito além do que a velha vale. A bem da verdade, por mim, a enrolaria num lençol velho e jogaria no mar, mas sabe como é que é, ela é mãe da minha esposa, e avó dos meus filhos.
— De que morreu sua sogra?
— Creio que envenenada.
— Não foi o senhor que ...?
— Claro que não, por mais que não gostasse da velha, eu não seria capaz de estragar a minha vida por causa dela. Ela mesma se matou. Segundo o médico, ela engasgou com sua própria saliva. Para mim a velha se envenenou. A língua dela deve de ter contaminado a saliva.
__ Diante dos fatos, acho que esse com a alça quebrada serve, é só deixar a velha meio de lado e depois forçar um pouco para fechar o caixão.
— Fechado o negócio.
No velório, o genro chora copiosamente.