sem saída

Seus olhos fatigados não suportavam mais os números embaralhados em labirintos de papel, sem falar nas somas calculadas em visores eletrônicos centenas de vezes. As combinações eram muitas, repetidas, monótonas. Então, fragilizado, suspirou fundo, fechou as pálpebras pesadas e colocou as mãos na nuca, jogando o corpo para trás na cadeira. Contou até dez para se acalmar e percebeu que até a sua calma dependia dos números, ironia à parte, sentiu –se um escravo.

Abriu os olhos e agora a parede branca dos fichários e dos armários também era onde horas, minutos e segundos moviam-se lentos e numerados de um a sessenta no relógio do escritório. O frio império da matemática dilatava seus limites num ritmo de velocidade ilimitada. Com um leve desespero, comentou com o colega da mesa ao lado, desabafou assim: ainda falta uma hora para o fim do expediente!

O amigo se desenrolou de dois telefonemas, um computador e uma calculadora, e com paz e inspiração, disse em tom messiânico: não, falta “só” uma hora para o fim do expediente. Olharam-se, sorriram como quem desvenda o sutil e mortal enigma da esfinge. Um pouco mais animado, ou conformado talvez, balançou a cabeça, buscou uma xícara de café, cantarolou um samba antigo, estalou dedos e depois de respirar fundo retornou as contas.

Den
Enviado por Den em 13/04/2007
Reeditado em 13/04/2007
Código do texto: T447607