Solidão que nada...
Era ela e a onomatopéia ensurdecedora do relógio. Sabia que o tempo passava, e que continuava sozinha. Seus pés se entrelaçavam entre si, suas mãos também. Queria sentir. Sentir-se. Queria mais, mais vontade, mais suor, mais no chão, mais de si, mais de lá, mais do mundo.
Queria saciar o que não se saciava só.
Sua visita acabara de chegar. Era ali que começavam as mesmas rimas, o mesmo suor de todos os dias fragmentados, as mesmas palavras, os mesmos entrelaços, as mesmas mentiras conscientes de ambas as partes apenas para saciar, se saciar, se fazer acreditar que sentiam.
Eram duas perdidas entre salivas, dividindo a seiva da mesma árvore, se enganando entre rimas e a decadência das duas vinha. E corroía.
Se completavam no corpo, mas não havia complemento para as duas. Eram inteiras e não sabiam. Procuravam suas metades, seus terços, nos quartos e tinham medo. Medo de ultrapassar, ficar, falar, calar, ouvir, dançar em cima do mundo. E assim o mundo dançava em cima delas.
Eram sozinhas, não sabiam lidar com a solidão, com a integridade de seus corpos e mentes.
Tinham rosas no chão para si mesmas se estivessem sós, mas a dupla que se formava quando se encontravam rasgava cada pétala que poderia ter sido colocada com raiva, com delicadeza, com qualquer sentimento que não se sabia por ser de si para si mesma.
Havia em uma delas uma paixão já integrada a si. Estava pronta. Amava o que havia. Por que já amava a projeção de ter algo quando não tinha nada.
A outra vivia da sede, e se saciava em qualquer corpo que lhe desse amor. Por que dentro dela, não havia nenhum.