O INFERNO É AQUI
Perdido em devaneios mundanos, na cama da insônia, vejo passar carneiros magérrimos que me deixam de olhos secos perante as atrocidades que assolam, sem compaixão, crianças sem pátria. Os carneiros que passam estão desgarrados – as mães foram brutalmente assassinadas para tornarem-se fezes na podridão cerebral dos homens. As cortinas dos meus olhos lacram-se abertas perante tanta insanidade morando em meus pensamentos. Serei eu também um verme contribuinte desse inferno capitalista que impera na terra? Rolo na cama, carneiros continuam a passar, aos milhões, chorando de fome, não me deixam dormir. Anseio por ar. Levanto-me e abro a janela. Uma amargura azeda toma conta de mim ao visualizar, do outro lado da rua, meninos e meninas que dormem no breu das calçadas, sem um cobertor de carinhos, sem o beijo de boa noite. Como quem pressente o ausente, uma criança sai de baixo dos lençóis de jornais, me acena sorrindo, e eu... Engulo um lamento seco. Como juiz, me condeno a mim. Em meu cárcere privado (minha casa), por trás das grades da janela, dei-me um castigo: velar as crianças perdidas (pelo menos por aquela noite), filhos bastardos da mãe-Pátria Brasil. Era Páscoa. Nunca desembrulhei os ovos, enquanto outros continuam gerando “crianças”, que são adotadas pelas calçadas do mundo.
Perdido em devaneios mundanos, na cama da insônia, vejo passar carneiros magérrimos que me deixam de olhos secos perante as atrocidades que assolam, sem compaixão, crianças sem pátria. Os carneiros que passam estão desgarrados – as mães foram brutalmente assassinadas para tornarem-se fezes na podridão cerebral dos homens. As cortinas dos meus olhos lacram-se abertas perante tanta insanidade morando em meus pensamentos. Serei eu também um verme contribuinte desse inferno capitalista que impera na terra? Rolo na cama, carneiros continuam a passar, aos milhões, chorando de fome, não me deixam dormir. Anseio por ar. Levanto-me e abro a janela. Uma amargura azeda toma conta de mim ao visualizar, do outro lado da rua, meninos e meninas que dormem no breu das calçadas, sem um cobertor de carinhos, sem o beijo de boa noite. Como quem pressente o ausente, uma criança sai de baixo dos lençóis de jornais, me acena sorrindo, e eu... Engulo um lamento seco. Como juiz, me condeno a mim. Em meu cárcere privado (minha casa), por trás das grades da janela, dei-me um castigo: velar as crianças perdidas (pelo menos por aquela noite), filhos bastardos da mãe-Pátria Brasil. Era Páscoa. Nunca desembrulhei os ovos, enquanto outros continuam gerando “crianças”, que são adotadas pelas calçadas do mundo.