Esposa acuada
Logo cedo peguei o carro e, sem disposição, rumei para o trabalho.
Cheguei às 8h45 e, sem ninguém por perto, abri meu diário que guardo na gaveta, a sete chaves.
A presença da relíquia ali, num ambiente inóspito, tem como razão meu casamento.
Meu marido é muito desconfiado, e não poderia, jamais, deixar meus pensamentos - tão livres e sinceros - à mercê de uma mente doentia.
Tantos anos ali registrados... Tanta mágoa, tanta alegria.
Aquelas páginas me fizeram lembrar um tempo em que eu ainda sorria.
Vi passado longíquo e recente, e vi também incerto meu futuro.
A tranqüilidade daquelas lembranças foi quebrada pela presença da copeira.
- Aceita café, dona Rosa?
- Não, obrigada. Nossa, já são 9h!
Achei melhor fechar meu recanto secreto.
Quem sabe amanhã consiga chegar mais cedo, talvez às 8h...
Para rir e chorar no meu refúgio e confessionário.