Esposa acuada

Logo cedo peguei o carro e, sem disposição, rumei para o trabalho.

Cheguei às 8h45 e, sem ninguém por perto, abri meu diário que guardo na gaveta, a sete chaves.

A presença da relíquia ali, num ambiente inóspito, tem como razão meu casamento.

Meu marido é muito desconfiado, e não poderia, jamais, deixar meus pensamentos - tão livres e sinceros - à mercê de uma mente doentia.

Tantos anos ali registrados... Tanta mágoa, tanta alegria.

Aquelas páginas me fizeram lembrar um tempo em que eu ainda sorria.

Vi passado longíquo e recente, e vi também incerto meu futuro.

A tranqüilidade daquelas lembranças foi quebrada pela presença da copeira.

- Aceita café, dona Rosa?

- Não, obrigada. Nossa, já são 9h!

Achei melhor fechar meu recanto secreto.

Quem sabe amanhã consiga chegar mais cedo, talvez às 8h...

Para rir e chorar no meu refúgio e confessionário.

DLisboa
Enviado por DLisboa em 30/03/2007
Reeditado em 30/03/2007
Código do texto: T431220