O MUSO

não, é só mais um estudo.
agora só vou detalhar o pé.
fica nesta posição
assim...
não, não saia dela
é importante
muda a sombra.
pára.
é sério!
só mais um estudo
logo acabo e você...
você não está ajudando!

preciso de um modelo vivo
mas que não se mexa.
pára, isso é sacanagem
tira a minha concentração.
larga meu lápis sanguine.
não bate assim, ele quebra por dentro.
não tem vida, mas retrata a vida.
o quê?
seu sangue?
pára, pára, p-á-r-a...
não faz isso olha a luz
daqui a pouco o sol se põe...
a formiga mordeu seu...?
bobo!
ora, por quê na grama?
preciso de um pé descalço na relva.
crio isso depois.
você está me desconcentrando,
pára...
eu não!
ora tinha que ser você,
não acredito no que ouço!
olha que acabo deformando o seu pé
vou fazer o seu dedo mínimo duro
pára, pára...
larga isso, não brinca
não é um vermelho comum...
ficou louco?
seu maluco, é óleo!!!!
vai dar um trabalho mortal tirar isso daí!
ah, o meu desenho...
o pôr do sol...
a grama...
ai!
eu também vou ficar pintada...
ah...
maluco, não...
hãn...


vai, se veste.
tá frio.
agora não posso  mais pintar.
não.
nem quero!
o sol se pôs há muito.
nem pensar!
engraçadinho...
e não fica me mostrando esse dedinho. 
eu vou morder se mostrar...
vamos entrar, pegue o vinho.
vou ver o que faço para tirar essa tinta de nós.
estamos entranhados.
a da grama não tem jeito, a natureza cuida.
verde com vermelho?  marrom, terra.
ah, menino bonito...
tenho que achar um muso que não seja você!

Divina Reis Jatobá
Enviado por Divina Reis Jatobá em 24/03/2007
Reeditado em 07/07/2008
Código do texto: T424332
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.