Mormaço e suor
Mormaço – cheiro quente de terra molhada – definia o hálito daquela tarde de domingo. Um veneno para a maioria dos asmáticos. Para ela, porém, o veneno era indiferente. A angústia do abandono não deixou espaço para crises alérgicas. Ela simplesmente caminhava pela rua, ladeira acima, acompanhando o asfalto da avenida. O local de chegada não tinha importância, apenas o caminhar importava naquele momento. E, enquanto o suor timidamente surgia dos poros, a sensação de abandono tomava conta da alma, expulsando de vez a angústia, criando um vácuo em seu peito. “Suor”, pensou. Sentiu o corpo molhado – pernas, braços, costas, rosto, nuca, sexo – “Tudo molhado”. Não eram mais necessárias as lágrimas, já estava molhada de água salgada. Cansou de caminhar. Pegou um ônibus.
Foi ao cinema encantar baleias...