Mormaço e suor

Mormaço – cheiro quente de terra molhada – definia o hálito daquela tarde de domingo. Um veneno para a maioria dos asmáticos. Para ela, porém, o veneno era indiferente. A angústia do abandono não deixou espaço para crises alérgicas. Ela simplesmente caminhava pela rua, ladeira acima, acompanhando o asfalto da avenida. O local de chegada não tinha importância, apenas o caminhar importava naquele momento. E, enquanto o suor timidamente surgia dos poros, a sensação de abandono tomava conta da alma, expulsando de vez a angústia, criando um vácuo em seu peito. “Suor”, pensou. Sentiu o corpo molhado – pernas, braços, costas, rosto, nuca, sexo – “Tudo molhado”. Não eram mais necessárias as lágrimas, já estava molhada de água salgada. Cansou de caminhar. Pegou um ônibus.

Foi ao cinema encantar baleias...

Edward
Enviado por Edward em 21/03/2007
Código do texto: T420784
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