Mamãe Dora abriu os olhos, atenta.
Sentada na velha cadeira de braço, ocupava o centro do salão, onde, naquela tarde, empregados mudavam os móveis e levavam pequenos objetos, vasos, cinzeiros, enfeites, de um lado para outro. Não os conhecia; não eram seus criados, talvez trabalhassem para seu filho Hugo, homem poderoso, rico, e, portanto, cheio de empregados à sua disposição.
Mas aquele era o seu salão. Onde passara bons momentos em sua vida. O que faziam aqueles homens ali? E mais: o que queriam, tirando as coisas de lugar, levando embora os móveis, deixando aquele vazio frio e cheio de ecos? Um absurdo! O que pensavam que ela era, algum traste sem valor?
Encheu o peito, pronta para acabar com aquela falta de respeito. Tentou falar, mas a voz não saiu. Insistiu, sem sucesso. Ao fundo do salão, surgiu Clara, sua filha mais nova, linda; aproximou-se dela, mais e mais, seu corpo e seu rosto, as mãos estendidas num carinho, ocupando toda a visão de Mamãe Dora, que sentiu lágrimas lhe queimarem os olhos.
Clara pegou a foto sobre o chão e contemplou o retrato da mãe, sentada na velha cadeira de braços. Sentiu saudades. Aquele salão jamais seria o mesmo sem Mamãe Dora.