O pintor
Ele olha para a senhora com um sorriso triste: “O que fazer? Toda a minha família se criou lá.” Percebe que a deixou assustada com a simples menção ao bairro, que, afinal, é um dos mais perigosos da cidade. “Não se assuste, nós todos somos trabalhadores.” Ela dá-lhe um crédito, mas lastima que seja obrigado a viver com a sua família num ambiente marginal.
Dois dias depois, ele não comparece ao serviço. “O que terá acontecido com o meu pintor?” Pairam indagações no ar. Passa-se um tempo e ele volta, estampando o seu habitual sorriso. “A senhora sabe, um vizinho brigou com o irmão, veio a polícia, me chamaram..." “Vais terminar o serviço?”, pergunta-lhe de súbito. “Claro, vim para terminar.”
E o rapaz franzino, pai de três filhos, mergulha no trabalho.