REENCONTRO COM A TRIBO

Seria impossível encontrar minha anfitriã em meio daquele povo!
Recorri ao celular e em menos de cinco minutos lá vinha ela, ainda com o aparelho no ouvido, sorrindo e abraçando-me muito apertado.
- Você veio, você veio!... Bem-vinda minha amiga!
Enquanto admirava a nítida alegria estampada no rosto daquela bela mulher, meu cansaço pela longa viagem dissipou-se.
Ainda era manhã mas o sol já prometia um dia de calor intenso. Vitória me arrastava pela mão, abrindo caminho entre ciganos curiosos e sorridentes diante da visível euforia da kalin. Chegamos em uma, entre muitas tendas abertas, ali havia um grupo de homens bebendo e conversando animadamente. Vitória tampou os olhos de um cigano grisalho que estava sentado de costas para nós e enquanto falava gesticulava com a cabeça para que eu me colocasse diante dele:
- Tenho uma surpresa para você, um presente!
Quando destampou os olhos de Zaron e nossos olhares se encontraram, um vasto sorriso iluminou-lhe o rosto. Nos abraçamos. Eu não conseguia falar... Sentia aquele coração bater tão forte e emocionado quanto o meu. O tempo parou naquele abraço.
- Loyane, a filha do Vento! - A voz de Zaron estava embargada.
Sim, ali eu voltei a ser a Loyane, uma jovem de 30 anos atrás! - Deixa eu olhar para você! Como o tempo lhe foi complacente!
Queria agradecer pela gentileza e dizer sinceramente o mesmo, mas a voz não saía.
Abracei-o de novo e por fim consegui dizer:
- Quanta saudade, meu amigo!
- Venha Loyane, venha! Segura esse coração porque a emoção só está começando! - e mais uma vez Vitória agarrou-me pelo braço enquanto me arrastava para dentro da sua casa. Na sala, sentada em uma cadeira de balanços estava Dara! NUNCA poderia imaginar que aquela que um dia me acolheu em sua tribo estivesse viva!
Ajoelhei-me diante da cadeira, Dara cochilava.
- Phury-day?! - eu chorava enquanto a chamava baixinho.
Dara abriu os olhos, franziu a testa e seu olhar era de incredulidade.
- Loyane, é você Loyane?
- Dara! Minha Dara! - abracei-a o mais apertado que pude...

Existem sentimentos, emoções, que penso serem indescritíveis!... Portanto, nesse momento que escrevo, não consigo encontrar as palavras que fazem jus àquele momento mágico, sublime... indescritível!...

- Santa Sara! Eu precisava viver este milagre de Deus! - Dara segurava meu rosto entre as mãos tremulas e me beijava na face, na testa, na cabeça... - Cabelo lilás! Tinha que ser você, filha do Vento!
Foi a primeira vez que vi as lágrimas rolarem pelo seu rosto. Também foi a primeira vez que tive a certeza que, de alguma forma, marquei na vida daquela velha cigana tanto quanto ela marcou na minha.

      


(*) N.H.: Para maior entendimento leia os contos minimalistas anteriores. Todos formam um só conjunto.
Mundo, 02/12/2012.
 

HERMÍNIA ROHEN
Enviado por HERMÍNIA ROHEN em 05/01/2013
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