Brincadeira dos Deuses
Os mestres enxadristas se encararam, ambos sabendo exatamente qual próximo movimento deveriam executar para desestabilizar as defesas do adversário, ambos antevendo três ou quatro jogadas, ambos hábeis demais para cometerem erros de principiantes, caírem em artimanhas flácidas, iludirem-se com sacrifícios de peões, exaltarem-se com jogadas aparentemente sem sentido, demonstrarem sua inquietude diante da desvantagem; pois eram mestres, não meros iniciantes.
Mas a bola de uma criança no parque estragou a partida, com o impacto, arremessou reis, bispos e cavalos por terra.
Os dois mestres sentaram-se, lado a lado, num banco defronte ao crepúsculo. Continuaram jogando em seus pensamentos, cada um vangloriando-se de sua vitória, até o céu ficar salpicado de estrelas e de fantasmagóricos reis mortos.