MENINA RACISTA! Série: Figuras de Poções...
MENINA RACISTA! Série: Figuras de Poções...
Em um domingo ensolarado do mês de setembro de 1939. A cidade de Poções – Bahia, estava enga]anada. Palanque armado em frente ao prédio da Prefeitura, escolares perfilados e muita gente importante, de terno e gravata. Numa cidade colonizada por italianos, uma situação incômoda e constrangedora: O Brasil havia declarado guerra à Itália e ali na praça estavam todos os segmentos sociais. Os discursos eram inflamados e o patriotismo era enfatizado em tudo o que se dizia e se respirava. Mas havia um sentimento generalizado de perdão para com os italianos da cidade, pois tudo que viera de progresso tinha a marca da sua cultura milenar. Por outro lado, os casamentos com brasileiros havia tornado parentes, brasileiros e italianos, na cidade de Poções, palco destes fatos cuja situação era deveras difícil. Os mais ilustrados os mais bem dotados de inteligência e os cidadãos, minimizavam a questão internacional alegando simplesmente que os italianos ali radicados, com família constituída, filhos e netos, nada tinham a ver com a guerra, que era uma questão política de estado. Outros menos esclarecidos, entretanto discutiam até altas horas nos bares ou nos prostíbulos quanto ao destino que os italianos deviam ter. Alguns achavam que deviam ser linchados. Outros, que deviam ser fuzilados e outros que deviam ser expulsos, seus bens saqueados, suas famílias excomungadas até a 5ª geração.
Voltando à praça, convém dizer que muitos italianos haviam saído da cidade e foram esperar os ânimos se acalmarem em suas fazendas de pecuária, algumas localizadas até há 60 Kms. da cidade. Alguns, entretanto, teimaram em ficar. Naquela praça, com todo o aparato cívico, alguns filhos e netos de italianos, perfilados com suas professoras. ouviam amedrontados os discursos dos brasileiros que deviam decidir sobre o seu destino. Vale salientar que em noites anteriores houve saque nas casas dos italianos, o que gerou a saída dos tantos que citamos anteriormente. O clima era bastante tenso. As famílias italianas reuniam-se e rezavam dia e noite para que Deus mandasse uma solução conciliatória, com orientação do vigário ou em suas residências.
Os discursos eram cada vez mais inflamados e os oradores cada vez mais imbuídos do amor pátrio. Chegou então a vez do professor Campos. Apesar de amigo da colônia italiana, o professor. descendente de escravos africanos, abriu o verbo em bom português, entremeado de frases latinas de efeito. Falou sobre a importância da guerra para acabar de uma vez com a empáfia de Hitler e Mussolini, criticou a postura dos italianos e por fim sentenciou: Delenda (seja destruída) a Itália, Delenda a Alemanha, Delenda o Japão. Do meio da praça uma voz de mulher se fez ouvir acompanhada de palmas e vivas: - delenda os negros da Bahia, pimenta do reino do Taboão.
A situação passou então à tragicomédia, todos sorrindo e aborrecidos a um só tempo, sem saber a quem apoiar, mas achando espirituosa aquela mocinha que ao defender os italianos atacara, com uma sátira, os negros que nada tinham a ver com a guerra...