Nada

E então, você acha que é possível?

- O que? – a voz intrépida dele soa como um corte no universo, como uma janela para uma outra dimensão.

Amar, você acha que é possível amar?

- Sim, certamente é possível, mas ninguém sabe disso, porque quem conseguiu de verdade morreu logo depois – ele tem uma voz doce, de verdade, é doce apesar de tudo, ela é um pouco seca, e rouca certamente, mas é doce ouvi-lo, eu deveria fazer mais isso, deveria ouvi-lo mais.

E como você sabe então, como sabe que é possível?

- Por que tentar uma coisa que é impossível? As pessoas tentam, então sei que é possível, porque ninguém tenta fazer o impossível, a verdade é que as pessoas tem medo de conseguir, por isso é que não conseguem. – tentei manter a linha de raciocínio na voz dele, mas é difícil para mim não divagar um pouco.

Você acha que o universo é infinito?

- Não, acho que é finito. Mas certamente é muito grande. – ouvir ele me acalma sempre, olho nos olhos dele, eles tem a cor do céu noturno, talvez ele realmente seja...

E então, o que vem depois?

- Depois de que? – ele sabe do que estou falando, mas finge que é bobo.

Depois do universo.

- Nada. – ele responde como se fosse tão óbvio.

Você acha que um dia vamos conseguir chegar lá no fim do universo?

- Claro que sim, no mesmo dia que aprendermos a amar. – dou um sorriso para ele, ele nunca sorri, seu olhar sempre calmo, e sua voz sempre audaciosa e sagaz, eu gosto disso nele, ele tem o que me falta. Talvez ele seja mesmo, talvez ele seja mesmo deus. E agora, bom, agora nós estamos a alguns passos do nada. Apenas alguns passos.

Amanda França
Enviado por Amanda França em 28/07/2012
Reeditado em 10/07/2014
Código do texto: T3801327
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