Nada
E então, você acha que é possível?
- O que? – a voz intrépida dele soa como um corte no universo, como uma janela para uma outra dimensão.
Amar, você acha que é possível amar?
- Sim, certamente é possível, mas ninguém sabe disso, porque quem conseguiu de verdade morreu logo depois – ele tem uma voz doce, de verdade, é doce apesar de tudo, ela é um pouco seca, e rouca certamente, mas é doce ouvi-lo, eu deveria fazer mais isso, deveria ouvi-lo mais.
E como você sabe então, como sabe que é possível?
- Por que tentar uma coisa que é impossível? As pessoas tentam, então sei que é possível, porque ninguém tenta fazer o impossível, a verdade é que as pessoas tem medo de conseguir, por isso é que não conseguem. – tentei manter a linha de raciocínio na voz dele, mas é difícil para mim não divagar um pouco.
Você acha que o universo é infinito?
- Não, acho que é finito. Mas certamente é muito grande. – ouvir ele me acalma sempre, olho nos olhos dele, eles tem a cor do céu noturno, talvez ele realmente seja...
E então, o que vem depois?
- Depois de que? – ele sabe do que estou falando, mas finge que é bobo.
Depois do universo.
- Nada. – ele responde como se fosse tão óbvio.
Você acha que um dia vamos conseguir chegar lá no fim do universo?
- Claro que sim, no mesmo dia que aprendermos a amar. – dou um sorriso para ele, ele nunca sorri, seu olhar sempre calmo, e sua voz sempre audaciosa e sagaz, eu gosto disso nele, ele tem o que me falta. Talvez ele seja mesmo, talvez ele seja mesmo deus. E agora, bom, agora nós estamos a alguns passos do nada. Apenas alguns passos.