A morte rubra da mulher do poeta
Há três dias um evento estranho colocou um fim ao período de felicidade que transcorria há anos.
Ela colocou sangue pela boca, uma enorme quantidade de sangue que saía entre tosses e sorrisos tranqüilizadores.
A sua magreza elegante foi coroada por uma palidez cadavérica e ela resfolegava para subir a escada rumo ao quarto.
Depois não mais se levantou do leito.
Permanecia num estado de semi-sonolência, interrompida apenas pelos breves momentos em que a obrigava a engolir algumas colheres de sopa de batatas.
Ali não havia médico, e mesmo que houvesse, ninguém conhecia ainda qualquer remédio eficaz para aquela doença, a morte rubra, o sangue que se esvai pela boca, em meio ‘a tosse e dor.
Então ela morreu. Nos meus braços, afogada em seu próprio sangue.
E eu vou enterrá-la. Permanecerei séculos ajoelhado ali. Escreverei em sua lápide; aqui jaz o meu amor. E aqui estou eu.
Tusso. Mas não escarro sangue. Estou febril da dor. Mas sou forte e hei de resistir para continuar ao seu lado. Doença maldita, demônios que destroem os pulmões. Será que fui eu que a contaminei?