A Pulga de Sofia
O vento fez com que os pelos fossem de um lado para o outro, então uma pulga se acordou.
Uma pulga agora lutava contra sua própria preguiça, contra a prisão mais cruel de todas, aquela feita com grades de autopiedade e hipocrisia.
Os pensamentos de uma pobre pulga ocupavam um espaço maior do que o seu próprio corpo – Via as outras pulgas conformadas e felizes em seu conforto; gordas e cheias de assuntos inúteis...
Nada mais fazia sentido para uma pequena pulga, que já preferia morrer do que continuar ali, se alimentando da própria desistência de alcançar alguma dignidade em sua curta vida.
Uma pulga começou a escalada do pelo branco do coelho, escalada que deveria ser algo natural, mas devido ao estado de inércia de sua espécie, a escalada do pelo liso era a mais improvável – apenas cogitada pela nutrição da ilusão de esperança à que todas as pulgas estavam submetidas – Apenas praticada pelas pulgas que acima do cheiro confortante da pele do coelho, viam luz, e a luz era a sua coragem.
A escalada machucou, enlouqueceu, embriagou, envelheceu e matou uma pulguinha – agora não era uma pulga, era a Pulga.
A Pulga, já livre de sí mesma e livre de sua própria prisão observou o cotidiano de suas contemporâneas – repetitivo o suficiente para ser decorado em pouco tempo.
A Pulga já encontrava a felicidade no ato de respirar, e num último suspiro pulou do pelo do coelho e observou nos olhos do mágico... o susto... caiu para a graça da ironia!
Agora a nutrição da ilusão de esperança se transformara na própria esperança e todas as pulgas esperevam que algum dia, alguém, descobrisse o significado de suas vidas... E a história se repetiu!