Quarta-feira

Cinco em ponto da manhã. Meu café já esfriou, mas eu não me importo, visto que também gosto dele frio.

Meus ouvidos só escutam o som do piano (que traduz tudo o que estou sentindo no momento), La Chute, meus fones cravados um pouco abaixo de minhas têmporas. Quando eu os tiro, só ouço meus dedos digitando no teclado e a respiração tranquila de minha mãe.

Cinco e três. Nesse meio tempo eu parei de digitar, estiquei os dedos e dei um gole no café. Clichê. Cinco e quatro. A música parou e eu coloquei no repeat. Click. Click. E La Chute novamente. La Chute. La Chute.

Cinco e cinco. Eu sinto aquela vontade de mergulhar num lago profundo. Largar meus medos lá dentro, minhas frustrações que ainda nem aconteceram, minhas decepções imaginadas. Utopia. Poderia eu sumir por alguns minutos? Deixar de respirar. Não existir no mundo. Porém num piscar de olhar. PAM. Eis que eu apareço em cima de uma árvore e aceno para você.

Cinco e sete. A música está no terceiro minuto e no decimo segundo segundo! Repetição de palavras iguais mas com significados diferentes. Como "aguardo". Eu aguardo a sua chegada. E "aguado", meu peito está aguado de ressentimentos. Aguardo e aguado, apenas um R muda a coisa. E você me perguntaria (se deixasse a preguiça de lado), "mas e esse R? o que vai fazer com ele?", E eu responderia: "colocarei num baú", e você me acharia idiota e nunca mais falaria comigo outra vez. Eu morreria. Morrreria com meus 4 erres.

Cinco e doze, La Chute acabou. Só ouço o barulho constante do ar condicionado e da respiração de minha mãe. A tela do computador arruinando a minha vista, meus dedos vacilantes por entre as teclas... O voce está sem acentuo.

http://www.4shared.com/audio/Nn4Q_XyB/13_-_La_chute.htm

Bruna Morgan
Enviado por Bruna Morgan em 18/12/2011
Código do texto: T3394619
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