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Museu da Ilusão



De tanto caprichar na construção do castelo de sonhos  perdeu-se no tempo.

Repentinamente despertou exausta - a alma  lhe pedira uma pausa.

Décadas haviam se passado.

Das não poucas lágrimas fez um lago verde como seus olhos onde sonhou navegar os sonhos.

Veio a estiagem, a seca severa.

Os olhos morreram, o lago secou.

Ruiram-se as paredes da esperança, agonizaram os projetos no calabouço da realidade.

Arquitetura ultrapassada - assim resumiu ao terminar o templo do amor, o castelo que povoara a infância, os sonhos de menina, o abrigo da mulher madura.

Nas pequeninas janelas do medo o sol não conseguira entrar.

No mármore de todos os altares depositara a paixão - congelada na pedra fria do desprezo.

Completamente perdida,viu desmoronar  a vontade de sonhar - o castelo a incomodava.

Braços ausentes, afetos distantes, olhos indiferentes, assim cairam um a um os últimos tijolos da esperança.

Num ato de desespero sepultou as sobras de sentimentos na fria vala de cimento.

Do castelo nada sobrara.

No lugar,  um museu esquecido,  povoado de figuras de cera - estáticas,inafetivas, distantes.

Vestiu-se de noite.

Não suportou o açoite.

Nos becos da vida costumava contar sua trajetória- ninguém acreditava!

Cansada de tentar provar o improvável despachou os sentimentos para o cais do abandono.

Ato contínuo vestiu-se de cera para encenar o último ato.

Adornada de  rendas e cetim representou na dor e no fel o seu mais intenso papel - o de princesa amada no museu da ilusão!

Na platéia via-se  a única expectadora - apenas a solidão.



(Ana Stoppa, inspiração poética)





Ana Stoppa
Enviado por Ana Stoppa em 15/12/2011
Reeditado em 16/12/2011
Código do texto: T3390995
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