Oceano de Paz
Cansada de usar máscaras para tudo segundo a imposição do meio, saiu na calada da noite em busca de sua identidade.
Caminhos tortuosos, escuros becos, paredes úmidas, piar das corujas.
Ruído assustador do vento ao tocar as folhas mortas.
Como um robô seguiu noite afora ao lado da solidão - inseparável companheira.
No trajeto em meio ao pranto gradativamente se desfez das máscaras.
Caminhou até a noite convidar o dia para dormir.
Raios do sol matinal prateavam o sal das lágrimas que se misturava com o oceano.
Viu-se repentinamente no cais.
Caos.
Restava a última máscara, aquela que de tão forte se assemelhava a um escudo.
Hesitou em tirá-la, precisava de coragem - um ombro, uma voz, um abraço.
Nada.
Apenas o murmúrio das ondas entrecortado pela algazarra dos pescadores.
Olhou para o oceano, tão profundo como aquele encontro consigo mesma.
Angustiada em meio ao pranto descartou a máscara da alegria.
Viu-se frágil, abandonada, solitária, sem qualquer motivo ou causa para prosseguir no insano teatro da existência.
Pés descalços, agonia, face em pranto, decepções, vazio.
Retornar para o ponto de partida – jamais.
Atraída pela imensidão do mar banhou-se de serenidade.
Despiu-se de vez das indigestas máscaras.
Provou a serenidade sob o silêncio daquela manhã
primaveril, abraçou o infinito rebordado de estrelas.
Encontrou enfim a sonhada liberdade.
Mais que isso, a Paz.
(Ana Stoppa, inspiração poética)