Teoria da Conspiração

Via conspiração em tudo. Nos baixos salários, no desemprego, nas novas doenças como a Aids ou o Ébola, havia sempre o dedo de algum agente de organização secreta. Estressado pegava ônibus ou trens, esperando aflito pela operação arrastão já previamente combinada com a polícia. Até que um dia teve um infarto. O aperto no coração começou, e diferentemente das outras vezes, não mais passou, agravou-se como se estivesse tendo uma câimbra no coração, impossível de massagear. Caído no chão da rua aguardou pela ambulância. Esperou por horas e nada. Estavam em greve disseram, os miseráveis do socorro. Cambaleou até a porta providencialmente aberta de um táxi e dispôs-se a pagar a corrida pela sua vida. Mas o táxi ficou retido num engarrafamento monstro. Pelo rádio souberam: bandidos estavam queimando ônibus com as pessoas dentro. A cidade estava um caos. E ele morrendo. Via o semáforo passar do vermelho ao verde, e de novo, ao vermelho, e o táxi parado. Esperava agüentar até o próximo verde.