UM MILAGRE DE NATAL
UM MILAGRE DE NATAL
Já era noite quando despertou. Estava gelado e trêmulo. Garoava suavemente. Sentiu fome também. Então percebeu que estava abaixo de um já úmido elevado, que se unia a uma grande avenida, repleta de lojas e ainda movimentada. Passou a caminhar, seguido por uma garoa fina e insistente, que caia e escorria por seus lisos cabelos de jovem menino. Parou enfrente a uma primeira vitrine, onde se encontravam expostas belas roupas infantis. Olhou para as suas e viu que em nada se igualavam aos farrapos que embrulhavam seu corpo magro. Lágrimas caíram ao rosto. Seguiu a diante. Mais a frente viu uma outra vitrine, repleta de enormes brinquedos. Entrou um pouco para observa-los melhor, mas logo foi enxotado pelo dono, carrancudo e mal humorado, como se fora um cão vira latas sem dono. Continuou sua peregrinação sem rumo, banhado agora, além da chuva, por lágrimas incessantes. Passos adiante, deparou com uma outra vitrine, com prateleiras de vidro, recheadas de deliciosas guloseimas. Fitou-as com desejo, porém, antes que balbuciasse alguma palavra, foi novamente escorraçado pelo proprietário.
Seguiu então, sua caminhada solitária, até adentrar a uma viela, de habitações simples e rudimentares. Já exalto e com os olhos vermelhos, acabou por deixar-se pousar enfrente a uma das casinhas, desabando de vez em lágrimas.
Firmino logo saiu à frente de sua casa, motivado pelo ruído que penetrava paredes adentro (se é que se poderia chamar assim aquelas madeiras unidas de forma desordenada), até atingir seus apurados ouvidos. De pronto quis saber o que tão frágil ser fazia ali em frente, chorando assim tão copiosamente.
_ Também vai me escorraçar daqui, como fizeram os outros? Disse em prantos o menino.
_ Meu pobre garotinho – disse sorridente – não sei do que está falando, mas certamente não vai ser ai se molhando que e chorando que vai conseguir me explicar! Entre e tente me contar o que aconteceu!
O menino logo cessou suas comoventes lágrimas e acompanhou o anfitrião, entrando junto com ele no simples mas zeloso lar. Contou-lhe dos ocorridos e de como os expulsaram sem a mínima comoção de seu estado. Era noite de véspera de natal e estavam a pouquíssimas horas da meia noite. Firmino, um humilde e honesto trabalhador, que por hora encontrava-se desempregado, conseguiu, à custa de um pequeno bico, comprar alguns presentes baratos de camelô para seus pequenos filhos, além de garantir um frango assado e algumas frutas para sua ceia, que no demais teria um pouco feijão, uma pequena panela de arroz e algumas torradas que sua esposa inteligentemente embelezou com açúcar, dando a estas uma forma doce. Mesmo assim, não se ocultou de sua visita e, apiedando-se dele, convidou-o para passar aquela humilde ceia juntamente com sua família. Antes, deixou que este tomasse um bom banho, com água quente, não de chuveiro, que alias nem existia ali (apenas tinha um orifício do cano, por onde saia o filete de água), mas sim esquentado em fogão. Enquanto isto, separou uma peça de roupa, de um de seus filhos que parecia ter o mesmo tipo físico do menino, para que este pudesse vestir e livrar-se daqueles maltrapilhos sujos e úmidos. Fez também com que um outro filho dividisse seu presente, um carrinho com animais de fazenda, onde os pequenos bichinhos de plástico fora repartidos de forma igual.
De repente, ouviu-se uma espécie de foguetório nos fundos da casa. Todos, exceto o pequeno visitante, correram para ver do que se tratava. Ao retornarem, encontraram a mesa totalmente repleta de comidas, dignas de um verdadeiro banquete. Atônitos a tudo aquilo, perguntaram ao pequeno menino como poderia ser tudo aquilo. Este respondeu sorridente.
_ seu Firmino, enquanto vocês estavam observando os fogos lá nos fundos da casa, veio um homem e deixou tudo isto. Deixou também esse envelope para o senhor!
Ao abrir e ler o seu conteúdo, quase não conseguiu respirar de tanta emoção. Neste, entre outras coisas , dizia: “Senhor Firmino, no inicio da semana, compareça com todos os seus documentos ao nosso estabelecimento, pois será contratado para uma de nossas funções em aberto. Deixo essa ceia para sua família, pois sei o quanto humilde e bondosos são todos”. Então, deu-se conta de que já era exatamente meia noite. Passaram a se cumprimentar felizes e emocionados. Deram inicio então àquela já tão abençoada ceia. Após algumas horas, o pequeno garoto, agora de semblante corado e feliz, agradeceu a todos e afirmou que precisava partir. Em meio as tantas insistências de Firmino e dos demais familiares para que este ficasse, disse que ainda tinha muito que caminhar. Quando já estava um pouco distante, Firmino se deu conta de que ninguém se lembrou de perguntar o nome do garoto, nem tão pouco a sua idade e de onde tinha vindo ou para onde iria. Firmino então gritou:
_ Garoto! Qual seu nome? E a sua idade!?
Ao longe apenas se ouviu:
_ Chamo-me J.C! Tenho pouco mais de 2000 anos...e Ele desapareceu!
Então, comovido em lágrimas, Firmino agradeceu:
_ Obrigado meu bondoso Deus! Volte sempre que quiser,pois minha humilde casa sempre será Sua!
GILSON SANTOS – 19/ 12/2006