Se fosse possível a um Homem…

“Somos deserdados do nosso passado, separados das nossas origens, não devido a qualquer amnésia ou lobotomia, mas à brevidade da nossa vida e às imensas e insondáveis perspectivas de tempo que nos separam delas”

Carl Sagan

Se fosse possível a um Homem…

Viver até ao fim dos tempos, até ao fim do próprio tempo, até ao fim do Universo, ele veria e perceberia coisas extraordinárias que escapam ao comum dos homens e até à nossa história pela sua extraordinária brevidade…

Ele veria…:

Que a imaginação humana, apesar de prolifera nem sequer se aproximou de um por cento de tudo o que possui ou de que se passa ou passou no Universo, que apesar deste ser constituído por imensos elementos que existem na Terra, a sua diversidade é de tal ordem que torna a tal imaginação de que tanto nos orgulhamos em algo pequeno, tão pequeno como o lugar que ocupamos no Cosmos…

Porque existem mais galáxias do que as estrelas avistadas pelos humanos de todos os tempos, e em cada galáxia há um sem número de espécies, inteligentes e não inteligentes, cujo aspecto nos é totalmente estranho, pelas extraordinárias circunstâncias que levaram a tal…A vida na Terra foi ocasionada por uma série de factores bem próprios e que muitos dizem que dificilmente se repetirão…O que está completamente certo, mas errado no sentido de que a vida dificilmente poderá ter lugar pela raridade dessas circunstâncias…certo que é impossível noutro lugar surgirem humanos ou seres com a nossa aparência, errado no sentido da vida não proliferar…ela prolifera, mas noutras circunstâncias, de tal ordem próprias que o aspecto desses seres é completamente diferente do que imaginamos…Basta que um planeta possua uma gravidade diferente da da Terra para a fisionomia dos seus habitantes ser diferente, podendo ser mais altos, mais baixos, mais largos, mais estreitos, numa tal conjugação de factores de tal ordem diversa que há milhões de formas diferentes da humana, milhões…se não mais…Porque há outros factores como a composição de uma atmosfera, e a nossa é única, como únicas serão outras atmosferas, logo únicos são e serão outros seres…e se dentro da nossa atmosfera há tantos seres diferentes…

E então ao longo da sua vida, este homem “imortal” perceberia que as leis da física e da química que criámos e que julgamos na nossa arrogância de pequenos serem universais de facto não o são…Que a velocidade da luz é apenas uma mera velocidade, que é ultrapassada vezes infinitas, apesar dos nossos sábios terem por adquirido a impossibilidade de tal…porque até o maior dos nossos sábios faz pálida figura entre certas inteligências alienígenas médias…Que essas leis são apenas meros conceitos no meio de infinitos conceitos…

Veria que a única constância universal é de facto o tempo, mas este é perfeitamente subjectivo, porque o que é muito tempo para nós é um quase nada para outros, e o que é pouco tempo para nós é uma eternidade para ouros tantos…Algo de lógico que muitos teimam em reconhecer, apesar de na própria Terra existirem elementos na natureza que comprovam tal, porque se uma vulgar bactéria tivesse inteligência, pela brevidade da sua vida olharia o tempo de vida humano como uma eternidade…E nesta lógica, apesar de de facto o Universo nascer, crescer e ir morrer, o tempo dele é de tal ordem vasto que de facto se pode chamar infinito ou uma eternidade…para um humano…

E de facto esse humano perceberia na sua vida da duração do Universo que os humanos são e foram breves, que as nossas maiores realizações de que tanto nos orgulhamos nada são de facto, porque até as sondas que enviamos para o espaço e que devido à pouca erosão sofrida durarão muito mais tempo do que a espécie que as criou, até elas, no tempo do Universo serão breves, e até elas acabarão como tudo o resto, como meras partículas dispersas e indistintas entre infinitas outras partículas…

Verá que apesar de ser uma espécie assumidamente física, o que restará de nós até o Universo colapsar por fim, serão elementos não físicos como as imagens ou sons que a nossa tecnologia catapultou para o espaço e que ai permanecerão, ai sim Eternamente…

E não deixa de ser uma ironia algo trágica que uma raça estética ou que vivia para a imagem, descurando tudo o resto, tenha como seu legado final meros sons…

E que sons restarão de nós…?

O de um deflagrar de uma bomba atómica ou o primeiro grito de uma criança ao nascer…?

A esta questão só o tempo ou a sua arbitrariedade podem responder…porque ai sim, é uma mera questão de sorte qual o som que nos sobreviverá, qual o som que nos recordará…

Podíamos, claro, alterar um bocadinho esta ordem, inundando o Universo com belos sons…fazendo com que os maus fossem uma minoria…

Mas tal é impossível…

Porque a maior tragédia humana é teimar em coexistir entre o bem e o mal, entre o feio e o horrendo, porque mesmo que criássemos leis que nos obrigassem a só lançar para o espaço belas imagens, belos sons pelos quais gostaríamos de sermos recordados, haveria pelo menos um de nós que faria exactamente o contrário, porque é esta dualidade parte da nossa diversidade, porque por absurdo que nos pareça é esta diversidade algo esquizofrénica que faz de nós únicos…

É este o nosso dom, é este o nosso drama…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 24/09/2011
Reeditado em 24/09/2011
Código do texto: T3237519
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