Última vez
Caminhou pela rua escura, já que o horário de verão o obrigava a sair ainda de noite. Tinha certeza que seria pela última vez.
Aguardou pelo ônibus, certamente, ele achava, pela última vez. Uma hora de viajem de pé, agarrado para não cair, sonolento e sonhando com sua cama, pela última vez.
Trabalhou o dia todo como autômato, certo de que seria pela última vez.
Algo muito importante ocorreria antes do dia acabar, e a sua perspectiva de vida mudaria completamente. Sabia porque havia sonhado com um animal enorme e peludo, que o devorava. Acordou assustado e, não teve dúvidas, jogou tudo no leão.
Agora, já noite, se esticava todo para ver o resultado do jogo afixado no poste.
Leão? Estava escuro e ele não conseguia enxergar muito bem. Leão?
Com o coração aos pulos viu o resultado. Urso.
Droga. Rasgou o papel e voltou para casa. Como pode se enganar? Não sabia a diferença entre um leão e um urso?
Em casa beijou o filho e pensou em ir, no sábado, ao zoológico, fazer um passeio. Pela primeira vez.