ÚNICOS COMPANHEIROS
Cansada de esperar anos e anos pelo marido - o sr. Paradão -, Dona Espera foi até o portão da casa e disse bem alto para os vizinhos que estava indo embora, que nao aguentava mais a tristeza que sentia por causa da anormal paciência do companheiro. Não queria mais esperar, cansou de esperar. Depois disso, ela se foi. Quem podia imaginar que Dona Espera ficasse assim tão agitada e furiosa com aquele maridão!...
Horas depois, o sr. Paradão chegou em casa. Pessoas mais próximas à família vieram contar o que havia acontecido. Visivelmente triste e desconsolado, ele se sentou no sofá, pediu que o deixassem sozinho. Ficou pensando nos bons e nos maus momentos que passou com a mulher, deixou rolar algumas lágrimas e depois puxou o canivete do bolso.
Olhou para cima e para os lados da sala, suspirou profundamente e esticou o braço até a mesinha de centro, de onde pegou o fumo de rolo, que logo em seguida foi cortado com a ajuda do canivete afiado e colocado na palha que tirou do bolso de sua calça. Calmamente acendeu o cirgarro e permaneceu parado, ali no sofá, à noite inteira, olhando para a porta de entrada da casa, esperando por aquela que saiu com a intenção de não mais voltar àquele lugar.
Dona Espera não quis mais esperar por ele, mas o Sr. Paradão ficou esperando... esperando... esperando... Ele demorou a compreender que, naquele instante, a solidão e o cigarro de palha eram os seus únicos companheiros.
Glaucia Ribeiro (7/7/2011)