Depoimento

Era como se fosse um sonho. Talvez fosse mesmo. Talvez não. Eu estava ensangüentada antes mesmo de me jogar. Meu corpo tremia. Não sei ao certo se de frio ou pavor. As coisas não pareciam tranqüilas. Eu não conseguia ouvir nenhuma musica suave no ar, nenhum canto que pudesse me acalmar. Era somente o barulho da poluição, das mortes e dos assassinos com suas máquinas de matar. Meu coração também batia, eu podia senti-lo. Doía-me o peito, mas não conseguia escutá-lo. Sabia que estava batendo, mas não tinha certeza de estar viva. De repente um novo som invadiu o ambiente. Eu virei meu corpo para acompanhá-lo e vi aves enormes brigando por um pedaço de comida: eu. Elas sobrevoavam meu corpo, esperando que ele estivesse frio o bastante para ser consumido. Toquei em minhas bochechas com as costas das mãos. Ainda estavam quentes. Não estava na hora. Um alívio inexplicável passou pelo meu corpo. Não havia sol ou nuvem. Nem mesmo a lua. O céu estava estranho. Não parecia dia nem noite, ou tarde. Será que estava cega? Não. Eu estava apenas vendo aquilo que se passava dentro de mim: morte. Então parei de renegar o meu pedido e, imediatamente meu corpo caiu frio sobre o chão. Frio. Frio como a mais pura rocha. Frio como a noite. Como os sonhos que se perdem em sua imensidão constantemente. Frio, frio, frio. Agora, o frio permanece. E não acho que pretenda ir embora. Está frio demais para ir embora. Não saia daqui. Fique comigo. A noite esta fria demais. Boa noite!

Louise Hammer
Enviado por Louise Hammer em 04/07/2011
Reeditado em 04/07/2011
Código do texto: T3075527
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