Fofinho
Fofinho. Desde bebê que Waldomiro trazia esse apelido. Não tinha lembrança de algum dia ter sido chamado de modo diferente; sempre Fofinho.
No berçário, recém nascido e já corado e robusto, provocou, na enfermeira que assistiu ao parto, este comentário:
- Como é forte este garoto. Que fofinho!
Desde então o menino foi sempre forte como um touro e o apelido ficou. Durante toda sua infância e adolescência, quando se tratava de qualquer tarefa que exigisse força, ele era sempre o primeiro a ser requisitado. Sempre pronto a ajudar. E assim continuou depois de homem feito; se algum vizinho precisasse arrastar um móvel que exigisse o esforço de três homens, chamava o Fofinho na certeza de que ele o faria só e sem ajuda. Contudo havia sim uma coisa que ele achava dura de carregar: o apelido de Fofinho.
Para o bem e para o mal sempre morou, junto com o resto da família, no mesmo bairro, na mesma rua, na mesma casa. Conhecia todo mundo e todo mundo o conhecia. Fofinho era popular à beça.
No dia em que completou trinta anos, Fofinho, mesmo acabrunhado pela recente morte da avó, concordou em apagar as velas do bolo de aniversário.
O pessoal mal e mal tinha terminado a cantoria do pique-pique, quando se ouviu aquele estrondo que fez tremer os copos sobre a mesa.
Todos correram para ver o que era.
Na rua, quase em frente da casa, um caminhão desgovernado arrastou por metros o carro de passeio. Viajavam no carro um casal e o filho pequeno.
O pai escapou mais ou menos ileso; a mãe, com pequenas escoriações, mas a criança ficou presa entre as ferragens.
Fofinho teve então seu dia de herói. Conseguiu praticamente arrancar a porta traseira do carro, tirar o menino e passá-lo aos braços da mãe. A mulher chorava e se descabelava como doida:
- Fofinho! Fofinho! Meu Fofinho! - e abraçava e beijava o menino.
Só então Waldomiro, o nosso Fofinho, se deu conta de que Fofinho era também o apelido do menino. Desse dia em diante ninguém mais chamou Waldomiro pelo apelido.