À espera
Olhou o relógio.
Esperou mais um pouco.
Sabia que deveria esperar, sempre fora assim. Ela, atrasada, chegaria e diria a frase: "Perdão pelo atraso." Ele a beijaria e diria "Tudo bem." Dariam-se as mãos e iriam à lancheria tomar o chá das 5. Sentariam, um em frente ao outro, a garçonete os serviria sem perguntar o que gostariam de comer ou beber, já os conhecia. Há 20 anos, desde que se aposentaram, faziam o mesmo ritual. Ele ia à varanda e a esperava terminar de arrumar-se; era vaidosa, não saía sem ajeitar os cabelos e passar batom.
Olhou novamente o relógio. Passaram-se duas horas. "Ela não vem mais.", pensou.
Entrou e sentou-se no sofá. - Nunca mais! - falou em voz alta.
Na mesinha em frente, ela sorria no porta-retratos.