À espera

Olhou o relógio.

Esperou mais um pouco.

Sabia que deveria esperar, sempre fora assim. Ela, atrasada, chegaria e diria a frase: "Perdão pelo atraso." Ele a beijaria e diria "Tudo bem." Dariam-se as mãos e iriam à lancheria tomar o chá das 5. Sentariam, um em frente ao outro, a garçonete os serviria sem perguntar o que gostariam de comer ou beber, já os conhecia. Há 20 anos, desde que se aposentaram, faziam o mesmo ritual. Ele ia à varanda e a esperava terminar de arrumar-se; era vaidosa, não saía sem ajeitar os cabelos e passar batom.

Olhou novamente o relógio. Passaram-se duas horas. "Ela não vem mais.", pensou.

Entrou e sentou-se no sofá. - Nunca mais! - falou em voz alta.

Na mesinha em frente, ela sorria no porta-retratos.

Maria Inez Flores Pedroso
Enviado por Maria Inez Flores Pedroso em 11/06/2011
Código do texto: T3027265
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