Depois do muro

Depois do muro

Maju Guerra

Voltei à velha casa da infância. Paredes desbotadas, árvores maltratadas, o jardim cheio de ervas daninhas sentia falta das mãos da minha avó. Atrás da casa, o muro outrora alto, agora praticamente em ruínas. Lembrei-me do medo que sentia do muro. Minha mãe dizia: não passe para o outro lado, depois do muro o mundo é perigoso. Eu acreditava, nunca procurei olhar o que existia depois dele. Dessa vez cheguei bem perto, tomei coragem e olhei pela primeira vez o que havia além. Vi apenas mato, árvores pequenas e outro muro adiante, nada que amedrontasse alguém ou que representasse perigo. Voltei e me pus a pensar no que deixara de fazer ao longo da vida, apenas por não tentar. Quanto desperdício, reclamou meu coração.

Maria Julia Guerra.

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