Perfeitinha


Escolheu naquela tarde um prato cheio. Ela era gostosa pra cassete ( dele, claro!). Cheia de curvas acentuadas. Mulher para mil talheres ( como se falava no escritório ), ele dispensou cada um dos mil, passou a língua nos lábios, pegou com gula toda a carne cheirosa, cravou os dentes, deglutiu sem classe ou conduta. Ela não era puta, talvez nem moça de família, mas quem iria se preocupar com isso? Depois de três horas, o celular tocou na maleta de couro dele, desligou rapidamente. Tomou uma ducha, sacudiu os cabelos cacheados, vaidoso como sempre, olhou-se no espelho e deu um sorriso de canto de boca. Deixou vinte pratas pro táxi, ele era gentil, mas mantinha uma macheza arrogante. Chegou em casa no mesmo horário, a mulher cuidando da janta, como sempre.  Mulherzinha boa companheira, perguntou como foi o dia dele, essas coisas de mulherzinha boazinha. Arrumou a cama com uma lavanda importada ( ele adorava daquele jeito ), tirou o penhoar de seda ( que ele trouxe de uma viagem de negócios ), tudo arrumadinho para satisfazer os caprichos daquele homem tão carinhosamente esperado. Ele deu um beijo rápido na boca da franzina esposa carente. Ela não teve tempo de afagar o peito dele. Ela custou um pouco para dormir. Parecia ter um vazio entre o estômago e outro órgão mais baixo. Ela nunca saberia que o pau dele estava tão bem acomodadinho, a boca tatuada de um batom que não era o dela, e o coração batendo com sono, afinal, o escritório tinha sido um inferno naquela tarde. Ela distraiu o pensamento, preocupada com as notas escolares da criança do meio. Depois de algum tempo adormeceu também, agradecendo ao Senhor a família feliz!
Cristina Jordano
Enviado por Cristina Jordano em 15/05/2011
Código do texto: T2971889
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