Porco chauvinista
Era um bruto, um exaltado, radical e truculento. Definia-se a si mesmo: Porco chauvinista. E o era, por certo. Nesse dia chuvoso ele tinha se demorado um pouco mais bebendo com os amigos e voltava para casa tarde da noite em sua camionete preta, quando avistou aquela moça em pé, na calçada, de guarda-chuva aberto. Pareceu-lhe que ela sinalizava alguma coisa para ele. Falou com seus botões:
- Será que está pedindo carona? – e logo concluiu – Claro que não; é uma vadia a fim de fazer programa. Ou, pior ainda, é bem capaz de ser travesti... Não vou atropelar essa desnaturada, mas que vou dar um belo susto nela isso eu vou...
Num movimento brusco de direção passou sobre a poça d’água e deu um banho na infeliz, mas aconteceu de o carro desgovernar-se e se espatifar no poste.
Quando os socorristas chegaram já nada mais podia ser feito. O homem não chegou sequer a ouvir a moça se lamentando:
- Ah! Papai se você me tivesse reconhecido nada disso aconteceria...