AMOR QUE É AMOR, NÃO TEM FUTURO...

 
Morena esbelta, beleza selvagem, arisca. Destacava-se das outras no meio do algodoal, nas ancas arrebitadas pelo labutar da colheita dos capulhos, nos seios empinados quando levantava a vista para o sol procurando a hora do almoço. Sebastião, caboclo forte, vaqueiro, agricultor, coçador de viola, encompridava o caminho pelo partido de ouro branco só para vê-la com o olhar enrabichado, por cima do ombro, até se perder na curva, se esconder nas oliveiras. Enlouquecido pela beleza daquela camponesa que não lhe dava nenhuma trela, Sebastião peitou-a um dia, numa vereda. Ela corria distraída no rumo de casa, quando ele sai do mato e puxa conversa:
- Maria, eu quero você para mim, pra toda vida. Sei caçar, pescar, plantar...
- Isso aqui todo mundo faz, diz Maria, rindo.
- Tenho uns 20 hectares de terra pegando a vazante do açude, umas 50 cabeças de gado, criação variada...
- Isso aqui, quase todo mundo tem. Maria ri da gabolice do rapaz.
- Tenho uma casa pronta cheirando a barro e à palha de carnaúbeira novos...
Maria olha nos olhos dele e o instiga de novo:
- Isso qualquer tem ou pode fazer...
O rapaz se transtorna. Pega-a pelo braço e leva-a para debaixo de um pé de oliveira e sem deixar de olhar em seus olhos, começa abrir a braguilha, e pergunta:
- E isso aqui, dessa grossura, será que todos tem?
Maria abaixa a vista e exclama verdadeiramente admirada:
- Meu deus, você é um aloprado.
Sebastião segura-a pelos ombros, insistindo:
- E então...
- Olha moço, nada do que você disse, do que mostrou, me interessa. Você me ama, então me ganhe, faça por onde. Vou estar sempre no meio do algodoal. Tenha um bom dia. E foi-se Maria vereda abaixo, a saia esvoaçando, mostrando a batata das pernas, roliças, morenas, pedindo mordidas bem-intencionadas.
Sebastião, braguilha aberta, olha para os bolsos da cueca empanturrados de cédulas de cem reais, o seu futuro e o de Maria...  

Sagüi
Enviado por Sagüi em 18/04/2011
Código do texto: T2916148
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