O Cãozinho Latidor
O velho homem já não suportava mais o pequeno cãozinho que as crianças haviam ganhado do vizinho de terras. O bicho espantava as vacas quando estavam sendo campeadas, comia ovos que as galinhas botavam e escavava todo o quintal, arrancando as mudas que acabavam de ser plantadas.
Mas era bonitinho o danado! As crianças o colocavam no colo e de lá ele abanava o rabicó olhando de soslaio para o homem que fumava o cigarro de palha enquanto resmungava.
_ Ainda mato esse cachorro! Ô praga!
No outro dia, mais galinhas cacarejando desesperadas enquanto Bolinha – este era o nome do vira-latas – corria com o focinho todo amarelo da gema de seus ovos. E lá vinha o homem esbravejando com a enxada nas mãos:
_ Te mato cachorro! Vem aqui que te mato!!!
E logo as crianças acudiam o animalzinho.
Uma noite quando a lua já ia alta e todos estavam em suas camas, ouviu-se um Bum! vindo do pasto dos cavalos. Logo depois ouviu-se a porta ranger ao ser aberta e depois fechada num surdo baque.
No outro dia, nada do cachorro.
O velho espremia os queijos que ainda escorriam em suas formas de metal enquanto as crianças tomavam o desjejum reforçado com café, leite, broas e queijo.
_ Pai, cadê o bolinha?
Sem se virar completamente, o homem que agora acendia seu cigarro de palha, respondeu com naturalidade:
_ Cobra pegô noite passada...
As crianças olharam-se e franziram suas testas. Meia hora depois estavam brincando na casa da árvore que construíam nos galhos robustos do Pé de Ingá, ouvindo o feliz assoviar do pai que recolhia os ovos botados pelas galinhas naquela manhã.