CHOVE LÁ FORA

A chuva queria molhar.

Montavam abrigos de cimento para ficarem alheios aos processos da Natureza.

Mas ele queria se molhar.

Sabia que a chuva vinha do ar, do Sol, das nuvens.

Uma água nascida da fonte pura, percorrida por impurezas e então sobe aos céus para ser repurificada e novamente cair nos rios para que este transborde poluição.

Ele queria elevar seus pensamentos e sentimentos aos céus para serem purificados.

Mas não aprendera evaporar-se...

Contentava-se em sentir ela esparramar-se sobre seus cabelos e sentia a água acumulada entrar em seu cérebro.

Águas, gotas, vindas diretas de uma matéria rarefeita.

De um estado quase espiritual.

De seu cérebro esta água devia caminhar até seu espírito (onde ficaria?).

E seu espírito receberia uma mensagem dos desencarnados e assim se refazeria de tristezas, encheria de força e transbordaria alegria pura despejando a sujeira.

Enquanto os outros sob o teto arquitetavam planos para se protegerem dele.

(09.02.1983)