CONTOS RÁPIDOS - UM PALHAÇO ACROBÁTICO E SEM RAZÃO
Vocês me vêem assim calmo, tranquilo, alegre, vezes outras taciturno, ensimesmado, mas, friamente, o que esperavam de um equilibrista? Sim, é isso mesmo. Um equilibrista. Eu sou um equilibrista. Pensam que é fácil? Sair por aí, à cata de nutrientes, proteínas, descer, subir, andar, correr, pular, negar, afirmar sentimentos, amar, desamar, odiar, ser odiado, equilibrando-se sobre uma bola achatada que gira para si e, não satisfeita, ainda elipsa ao redor de outra que também gira nos deixando tontos e suados? Quando me imagino - calafrio-me - sobre esta bola chamada Gaia, sem ter onde segurar? E se ela pára? Aumenta a velocidade? Não cobrem de mim a razão. Não a tenho. Uma coisa, certeza eu tenho. Tenho medo. Medo de ser cuspido deste carrossel galático. Outra certeza: se não catapultado, irremediavelmente serei engolido por esta bola de sílica, ah, mas vou mesmo... Não sei se, por excesso de zelo ou má-fé, mas quando me fizeram e puseram em cima desta esfera, apenas me disseram: "vai, ela é toda tua, dá os teus pulos..." Relutei na hora. Ganhei uma palmadinha na bunda. Um empurrãozinho politicamente correto, ao picadeiro...