CONTOS RÁPIDOS - ACUADO
Naquele dia - sempre existe um dia, uma hora, um instante, um segundo - e nem era agosto, nem sexta-feira 13, e nem tão pouco, noite de lua cheia. Era simplesmente uma noite escura, uma noite escura qualquer. De repente, do nada, sem brisa, sem vento temporão, um miado baixo, ressonante, um choramingar de menino novo. Se não era meia-noite, não o era por uma questão de segundos, portanto, Ismael apressou o passo pela vereda margeada por mufumbo, sem, no entanto, conseguir desgrudar dos seus calcanhares - aquela sombra invisível que se confundia com a sombra do breu da escuridão da meia-noite que o envolvia - aquele choramingar de recém-nascido. Ismael deu-se conta que estava correndo, sem rumo, alucinadamente. Diria, quem pudesse vê-lo, achá-lo, confundi-lo, pelo matraquear da quebradeira de mato que ele punha abaixo, com um bando de guaxinins raivosos. Esbaforido, deu de fuças com uma casa abandonada, de alvenaria, de um vão, quase uma tapera, diga-se de passagem. Forçou a porta com o corpo. Esta abriu-se sem dificuldades. Ofegando difícil,fechou-a rapidamente. Apertou os olhos. Varreu o aposento com um olhar elucidativo. No canto, lá no canto, lá no fundo, em uma das confluências de um dos cantos das paredes, dois olhos vermelhos, faiscantes, o espreitavam. Lá fora, algo riscava, quer dizer, arranhava suavemente a porta, em harmonia com um lamento choroso de um nascituro.